domingo, 31 de março de 2013

O Teatro Na Era Romântica



O teatro português retorna no romantismo, graças ao esforço despendido por Garrett, a grande figura da época. 
Com seu dinamismo e imaginação reformou o gênero através de suas obras de feição nacional e de alto sentido patriótico, uma das quais é obra-prima da dramaturgia Portuguesa e européia, o Frei Luís de Sousa.


Frei Luís de Sousa (parte 1/2) 



Frei Luís de Sousa (parte 2/2)


Filme produzido pela KAMART PICTURES em 2008 para um trabalho escolar de Literatura, baseado na obra homônima de Almeida Garrett.

O Terceiro Momento Do Romantismo


 Miguel Ângelo Lupi


Esse período é marcado pela presença de autores como os poetas João de Deus, Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Xavier de Novais e Pinheiro Chagas, e do romancista Júlio Dinis.
João de Deus foi um lírico de vibração interior ficando à margem das marcas do tempo e do meio. Mantendo-se fiel até o fim a um desígnio estético e humano que lhe transcendia a vontade e a vaidade.
Contemplativo por excelência, sua poesia é a dum "exilado" na terra a mirar coisas vagas e por vezes a
se deixar estimular concretamente. Cultiva os mestres Tomás Antonio Gonzaga, Camões, Dante, Petrarca
e a Bíblia. Entre suas obras, destacam-se Campos de Flores. 
Manuel Pinheiro Chagas teve em Castilho seu grande mestre. Seu Poema da Mocidade motivou a Questão Coimbrã, começo da batalha entre românticos e realistas, em virtude da apresentação escrita por Castilho, onde tece elogios aos ultra-românticos e critica os jovens que começam a fazer a literatura realista.
Os seus enredos ambientam-se entre o meio mercantil do Porto ou a vida doméstica no campo em casa de proprietários-lavradores. Nos romances ambientados no Porto como “Uma Família Inglesa”, a ação gira em torno da praça, onde pululam o grande e o pequeno comerciante, o guarda-livros, o rapaz dos recados, o caixeiro, o capitalista reformado, o rico filho-família herdeiro de uma grande firma.
Quando nos transporta para a aldeia como em “As Pupilas do Senhor Reitor”, “A Morgadinha dos Canaviais”, “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, o ambiente é mais convencional: a casa do lavrador abastado,
pintada de maneira muito vaga, com cores frescas, novas, e principalmente o coração dos mexericos da terra: a venda, onde se reúnem os lavradores, o brasileiro, o morgado decadente, o candidato a deputado e, de passagem, a beata da aldeia ou a criada do Senhor Abade, o ambiente burguês do proprietário ou ao solar do velho fidalgo.
Seus tipos são magistralmente caracterizados com uma leve formação caricatural e humorística, o que não exclui a ternura. Júlio Dinis deu um passo decisivo na nossa prosa de ficção ao criar em Portugal o gênero burguês e moderno por excelência, o romance “contemporâneo”, amparado certamente por um público que
tivera tempo de amadurecer desde os primeiros ensaios do romance histórico.

O Segundo Momento Do Romantismo

Leonel Marques Pereira

O segundo "momento" romântico, que se desenvolve mais ou menos entre 1838 e 1860, diverge segundo Moisés, do anterior: desfeitos os laços arcádicos que inibiam os escritores do tempo, entra um período que corresponde ao pleno domínio da estética romântica. 
Soares de Passos nasceu no Porto, de família burguesa, vê-se obrigado a trabalhar no balcão do armazém paterno enquanto faz seus estudos. Vai estudar Direito em Coimbra, onde funda O Novo Trovador. Já formado recolhe-se no seu quarto meses a fio, indiferente a tudo, inclusive à poesia, em virtude da tuberculose adquirida nos tempos da faculdade. Soares de Passos reuniu suas composições num volume, Poesias, onde se entrega a um negro pessimismo, a um desalento derrotista, próprio de quem sente a morte próxima e cultiva sua presença, um tanto por morbidez, um tanto por "literatura": é a poesia da decomposição, do cemitério, como em "O Noivado do Sepulcro."
Segundo Herculano, o poeta estaria “destinado a ser o primeiro poeta lírico português deste século”. Soares de Passos constitui a encarnação perfeita do "mal-do-século", pois viveu segundo Moisés, “na própria carne os desvarios de que se nutria sua fértil imaginação de tuberculoso narcisista e misantropo, sua vida e sua obra espelham claramente o prazer romântico da fuga, fuga, no caso, das responsabilidades concretas do mundo social”.

Camilo Castelo Branco

CAMILO CASTELO BRANCO

Camilo transita do Ultra-Romantismo para um Naturalismo coerente com suas tendências de cronista da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX. Reflete a angústia do ideal romântico e o desmontar das novas correntes ideológicas de origem Francesa. A biografia de Camilo é uma novela camiliana. Filho bastardo, órfão de pai e mãe desde a infância, ficou aos cuidados de parentes religiosos em Trás-os-Montes, onde foi iniciado no latim e conheceu a literatura dos seiscentistas e onde, também, “aprendeu a caçar bichos e raparigas, impulsivo participou de guerrilhas miguelistas.
Batia-se com freqüência em jornais e duelos por amores e por rixas literárias. Viveu amores passageiros
e escândalos pessoais até seu grande romance da vida real, quando conheceu Ana Plácido. Ela fugiu do marido para viver com ele, o que era neste tempo um escândalo passível de ação judiciária. O casal passa algum tempo como fugitivos, escondendo-se de terra em terra, até que os dois amantes se vêem forçados a entregar-se à prisão, onde Camilo escreveu seu romance “Amor de Perdição”.
Julgados e absolvidos, posteriormente se casaram. Por fim, a cegueira, o levou a matar-se. Na vastíssima produção de Camilo, é possível distinguir o romance-folhetim, à maneira de Eugênio Sue ou Alexandre Dumas: Mistérios de Lisboa, Livro Negro do Padre Dinis; o romance do amor trágico: Amor de Perdição; o romance-sátira: A Queda de Um Anjo, O Que Fazem Mulheres; o romance de costumes aldeãos: Novelas do Minho, Brasileira de Prazins; o romance histórico: O Judeu, O Olho de Vidro; o romance naturalista, que caricaturou: n’A Corja e n’O Eusébio Macário.
O pensamento mais profundo dos enredos camilianos pode talvez considerar-se como tipicamente pré-romântico. Quem quer que se interponha no caminho dos amantes aparece sob uma capa de ridículo ou de odioso. A mulher de todas as condições é quase sempre o anjo adorável, capaz de todas as abnegações e sacrificada ao egoísmo, à vaidade ou ao simples capricho masculino. Os heróis dos seus romances, freqüentemente, são manequins que vestem sentimentos emprestados pelo autor, e a sua vida psicológica desenvolve-se de maneira forçada e incoerente.
Camilo é talvez o único escritor português da estirpe de Balzac. No entanto, falta-lhe objetividade e o espírito analítico que caracterizam o escritor realista. Tende a oscilar entre o lirismo e o sarcasmo. Freqüentemente, em vez de retrato, faz caricatura. Não é por acaso que a expressão “novela camiliana”
é freqüentemente usada, em vez de romance de Camilo: a diferença entre um e outro é que na novela camiliana a ação é uma sucessão de acontecimentos independente da dimensão tempo, que tem grande importância no romance de Dickens ou de Balzac.

O Primeiro Momento Do Romantismo


O primeiro "momento" romântico, que se desenvolve mais ou menos entre 1825 a 1838. O Romantismo foi introduzido em Portugal por Almeida Garret, com a publicação, em 1825, do poema Camões, obra que, apesar de não representar fielmente os ideais românticos, traz consigo algumas características deste movimento literário.
ALMEIDA GARRETT


GARRETT

O Romantismo, em Portugal, teve como marco a publicação do poema “Camões”, de Almeida Garrett, em 1825, a partir do exílio, na Inglaterra e posteriormente na França. Garrett, através destas circunstâncias, parece ter compreendido a necessidade de existir um novo gênero de relações entre o escritor romântico e o novo público, isto é, os espectadores do escritor passam a ser o povo e burguesia, e a sua obra a maneira de chegar até este. Segundo Garrett, o novo público desejava assuntos sentimentais e focados na recuperação do nacionalismo posto de lado pela cultura clássica. O seu principal modelo literário é Filinto Elísio. Em Camões, poema narrativo em torno de um herói byroniano, Garret canta as amarguras e a saudade da pátria. As descrições remetem ao cenário romântico, os versos brancos (não rimados). Já no prefácio, o autor afirma o seu nacionalismo e declara não ser clássico, nem romântico, repudiando, tanto as regras de Aristóteles e Horácio, como a imitação de Byron, anunciado seguir apenas "o coração e os sentimentos da natureza". Em “D. Branca”, obra contemporânea de “Camões”, reconta a história em verso de uma infanta portuguesa raptada pelo último rei mouro, introduzindo ingredientes exóticos, folclóricos e mágicos, orientais e medievais. A obra Viagens na minha terra, em seu conjunto, narram um passeio pelas paisagens portuguesas. Obra híbrida em que impressões de viagem, de arte, paisagens e costumes se entrelaçam com uma novela romântica sobre fatos contemporâneos do autor e ocorridos na proximidade dos lugares descritos. A naturalidade da narrativa disfarça a complexidade da estrutura desta obra, em que alternam e se entrecruzam situações discursivas, estilos, narradores e temas muito diversos, em especial críticas sociais e políticas. Garrett inovou também na poesia. Em Flores sem fruto e Folhas caídas, introduz a espontaneidade e a simplicidade como em "Pescador da barca bela", pela proximidade com a poesia popular ou das cantigas medievais. A liberdade métrica, o vocabulário corrente, o ritmo e a pontuação são marcas de sua obra. Garrett empenhou-se intensamente na renovação do teatro em Portugal, objetivando uma produção de qualidade que elevasse o gosto e a cultura do povo. Sua vocação pela dramaturgia está representada pelas obras: Um Auto de Gil Vicente, O Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa, D. Filipa de Vilhena, além das comédias, Falar verdade a mentir, Profecias do Bandarra, Um Noivado no Dafundo, entre outras. Frei Luís de Sousa é indubitavelmente o que melhor realiza o seu ideal de sobriedade artística, combinando o fato da tragédia clássica e a atualidade do drama familiar, permanece ainda hoje um texto modelar da literatura dramática nacional. É, segundo Saraiva, “um dos pontos mais altos atingidos pela Literatura Portuguesa”.

ALEXANDRE HERCULANO


ALEXANDRE HERCULANO

Alexandre Herculano nasceu em Lisboa, em 1810. De família modesta, não pode fazer curso universitário, entretanto, fez vários cursos entre os quais o curso de Diplomática na Torre do Tombo, onde conhece a Marquesa de Alorna. Herculano exilou-se na Inglaterra e na França, criando polêmica com o clero, por participar da lutas liberais.
Em 1836, inicia sua carreira de prestígio intelectual com a publicação d’ A Voz do Profeta. Nos anos seguintes, inicia a publicação de suas obras de ficção: as Lendas e Narrativas, O Bobo, o Monge de Cister. É a fase mais intensa de sua atividade literária, e política, na defesa das idéias liberais. Interpretando com desassombro e espírito crítico alguns fatos da história de Portugal, como a batalha de Ourique, cujo aspecto lendário destrói com sólida argumentação, acaba provocando enérgica reação do clero. Junto com Garrett, foi um intelectual que atuou bastante nos programas de reformas da vida portuguesa. Herculano é o verdadeiro teorizador do Romantismo em Portugal. Pensava que uma revolução política e social se devia refletir na literatura. Assim, na ficção de Herculano, prevalece o caráter histórico dos enredos voltados para a Idade Média, enfocando as origens de Portugal como nação, temas de caráter religioso e na sua obra não-ficcional, renovou a historiografia, introduzindo o conflito de classes sociais para explicar a dinâmica da história. Segundo Moisés, “Alexandre Herculano é diametralmente oposto a Garrett em todos os aspectos: personificação da sobriedade, do equilíbrio, do rigor crítico; espírito germânico, dir-se-ia, enquanto o outro é latino, sobretudo francês. A obra de Herculano reflete-lhe o temperamento e o caráter: manteve-se imperturbável na posição de homem que apenas se julga convicto das idéias que defende depois de longa e cuidadosa meditação. Daí sua intransigência e sua indignação diante da pouca receptividade de suas idéias”.
Suas principais obras são: poesia (A Vox do Profeta, mais adiante incluído na Harpa do Crente), romances (O Bobo, O Monge de Cister, Eurico, o Presbítero), contos (Lendas e Narrativas), historiografia (História de Portugal, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Portugaliae Monumenta Historica).
Impõe-se observar que o forte de Herculano era a historiografia, por se identificar com o mais íntimo de seu temperamento e formação, e a tal ponto que tudo quanto escreveu reflete essa afinidade e predisposição. Para Massaud Moisés, “embora romântica pelos temas, a poesia de Herculano caracteriza-se por uma contensão que jamais cede a qualquer impulso para o derramado. Antes, solene, hierática, teatral, majestosa, é mais poesia pensada que sentida, denotadora duma inautêntica inclinação para o gênero:
tendo-a cultivado apenas nos anos juvenis (...). De sua poesia merece algum destaque o poema "A Cruz Mutilada", onde perpassa, apesar de tudo, muito pensamento sem emoção, além de subsistir a tendência para o declamatório altissonante”. Em sua essência, Herculano era demasiado historiador para se entregar a uma visão poética do mundo e dos homens: faltava-lhe a necessária imaginação transfiguradora da realidade sensível, e sobejava-lhe o espírito crítico e a erudição.

ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO

ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO

Castilho nasceu em Lisboa, em 1800 e aos seis anos, acometido de sarampo, fica praticamente cego para o resto da vida. Com a ajuda de seu irmão Augusto Frederico de Castilho, faz o curso secundário e ingressa na Faculdade de Cânones de Coimbra. Publica as Cartas de Eco e Narciso e A Primavera e se torna figura central da Sociedade dos Amigos da Primavera, organizada em sua homenagem.
Em 1865, provoca a Questão Coimbrã com sua carta-posfácio ao Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas. Cercado de glória e do carinho de seguidores fiéis, falece em 1875, em Lisboa.
A carreira poética de Castilho inicia-se sob a égide do Arcadismo, especialmente de Bocage, quando escreve Cartas de Eco e Narciso, A Primavera e Amor e Melancolia. Em 1836, publica suas obras sob a influência romântica: A Noite do Castelo e Os Ciúmes do Bardo, seguidos mais adiante de Escavações Poéticas.