Leonel Marques Pereira |
O segundo "momento"
romântico, que se desenvolve mais ou menos entre 1838 e 1860,
diverge segundo Moisés, do anterior:
desfeitos os laços arcádicos que inibiam os
escritores do tempo, entra um período que corresponde ao
pleno domínio da estética romântica.
Soares de Passos nasceu no Porto,
de família burguesa, vê-se obrigado a
trabalhar no balcão do armazém paterno enquanto faz seus
estudos. Vai estudar Direito em Coimbra, onde
funda O Novo Trovador. Já formado recolhe-se
no seu quarto meses a fio, indiferente a tudo, inclusive
à poesia, em virtude da tuberculose adquirida
nos tempos da faculdade. Soares de Passos reuniu suas
composições num volume, Poesias, onde se entrega
a um negro pessimismo, a um desalento derrotista,
próprio de quem sente a morte próxima e cultiva sua
presença, um tanto por morbidez, um tanto por
"literatura": é a poesia da decomposição, do
cemitério, como em "O Noivado do Sepulcro."
Segundo Herculano, o poeta
estaria “destinado a ser o primeiro poeta lírico
português deste século”. Soares de Passos constitui a
encarnação perfeita do "mal-do-século",
pois viveu segundo Moisés, “na própria carne os desvarios de que
se nutria sua fértil imaginação de tuberculoso
narcisista e misantropo, sua vida e sua obra espelham
claramente o prazer romântico da fuga, fuga, no caso,
das responsabilidades concretas do mundo social”.
Camilo Castelo Branco |
CAMILO CASTELO
BRANCO
Camilo transita do
Ultra-Romantismo para um Naturalismo coerente com suas
tendências de cronista da sociedade burguesa da segunda
metade do século XIX. Reflete a angústia do
ideal romântico e o desmontar das novas correntes
ideológicas de origem Francesa. A biografia de
Camilo é uma novela camiliana. Filho bastardo, órfão
de pai e mãe desde a infância, ficou aos
cuidados de parentes religiosos em Trás-os-Montes,
onde foi iniciado no latim e conheceu a literatura dos
seiscentistas e onde, também, “aprendeu a caçar
bichos e raparigas, impulsivo participou de
guerrilhas miguelistas.
Batia-se com freqüência em
jornais e duelos por amores e por rixas literárias.
Viveu amores passageiros
e escândalos pessoais até seu
grande romance da vida real, quando conheceu Ana Plácido. Ela fugiu do marido para viver
com ele, o que era neste tempo um escândalo passível
de ação judiciária. O casal passa algum tempo como
fugitivos, escondendo-se de terra em terra,
até que os dois amantes se vêem forçados a
entregar-se à prisão, onde Camilo escreveu seu romance
“Amor de Perdição”.
Julgados e absolvidos,
posteriormente se casaram. Por fim, a cegueira, o
levou a matar-se. Na vastíssima produção de Camilo,
é possível distinguir o romance-folhetim, à
maneira de Eugênio Sue ou Alexandre Dumas: Mistérios
de Lisboa, Livro Negro do Padre Dinis; o romance
do amor trágico: Amor de Perdição; o
romance-sátira: A Queda de Um Anjo, O Que Fazem Mulheres; o
romance de costumes aldeãos: Novelas do
Minho, Brasileira de Prazins; o romance histórico: O
Judeu, O Olho de Vidro; o romance naturalista, que
caricaturou: n’A Corja e n’O Eusébio Macário.
O pensamento mais profundo dos
enredos camilianos pode talvez considerar-se como
tipicamente pré-romântico. Quem quer que se
interponha no caminho dos amantes aparece sob
uma capa de ridículo ou de odioso. A mulher
de todas as condições é quase sempre o anjo adorável,
capaz de todas as abnegações e sacrificada
ao egoísmo, à vaidade ou ao simples capricho
masculino. Os heróis dos seus romances, freqüentemente, são manequins que vestem sentimentos
emprestados pelo autor, e a sua vida psicológica
desenvolve-se de maneira forçada e incoerente.
Camilo é talvez o único escritor português
da estirpe de Balzac. No entanto,
falta-lhe objetividade e o espírito analítico que
caracterizam o escritor realista. Tende a oscilar entre o
lirismo e o sarcasmo. Freqüentemente, em vez de
retrato, faz caricatura. Não é por acaso que a expressão
“novela camiliana”
é freqüentemente usada, em vez de
romance de Camilo: a diferença entre um e
outro é que na novela camiliana a ação é
uma sucessão de acontecimentos independente da
dimensão tempo, que tem grande importância no
romance de Dickens ou de Balzac.
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