domingo, 31 de março de 2013

O Segundo Momento Do Romantismo

Leonel Marques Pereira

O segundo "momento" romântico, que se desenvolve mais ou menos entre 1838 e 1860, diverge segundo Moisés, do anterior: desfeitos os laços arcádicos que inibiam os escritores do tempo, entra um período que corresponde ao pleno domínio da estética romântica. 
Soares de Passos nasceu no Porto, de família burguesa, vê-se obrigado a trabalhar no balcão do armazém paterno enquanto faz seus estudos. Vai estudar Direito em Coimbra, onde funda O Novo Trovador. Já formado recolhe-se no seu quarto meses a fio, indiferente a tudo, inclusive à poesia, em virtude da tuberculose adquirida nos tempos da faculdade. Soares de Passos reuniu suas composições num volume, Poesias, onde se entrega a um negro pessimismo, a um desalento derrotista, próprio de quem sente a morte próxima e cultiva sua presença, um tanto por morbidez, um tanto por "literatura": é a poesia da decomposição, do cemitério, como em "O Noivado do Sepulcro."
Segundo Herculano, o poeta estaria “destinado a ser o primeiro poeta lírico português deste século”. Soares de Passos constitui a encarnação perfeita do "mal-do-século", pois viveu segundo Moisés, “na própria carne os desvarios de que se nutria sua fértil imaginação de tuberculoso narcisista e misantropo, sua vida e sua obra espelham claramente o prazer romântico da fuga, fuga, no caso, das responsabilidades concretas do mundo social”.

Camilo Castelo Branco

CAMILO CASTELO BRANCO

Camilo transita do Ultra-Romantismo para um Naturalismo coerente com suas tendências de cronista da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX. Reflete a angústia do ideal romântico e o desmontar das novas correntes ideológicas de origem Francesa. A biografia de Camilo é uma novela camiliana. Filho bastardo, órfão de pai e mãe desde a infância, ficou aos cuidados de parentes religiosos em Trás-os-Montes, onde foi iniciado no latim e conheceu a literatura dos seiscentistas e onde, também, “aprendeu a caçar bichos e raparigas, impulsivo participou de guerrilhas miguelistas.
Batia-se com freqüência em jornais e duelos por amores e por rixas literárias. Viveu amores passageiros
e escândalos pessoais até seu grande romance da vida real, quando conheceu Ana Plácido. Ela fugiu do marido para viver com ele, o que era neste tempo um escândalo passível de ação judiciária. O casal passa algum tempo como fugitivos, escondendo-se de terra em terra, até que os dois amantes se vêem forçados a entregar-se à prisão, onde Camilo escreveu seu romance “Amor de Perdição”.
Julgados e absolvidos, posteriormente se casaram. Por fim, a cegueira, o levou a matar-se. Na vastíssima produção de Camilo, é possível distinguir o romance-folhetim, à maneira de Eugênio Sue ou Alexandre Dumas: Mistérios de Lisboa, Livro Negro do Padre Dinis; o romance do amor trágico: Amor de Perdição; o romance-sátira: A Queda de Um Anjo, O Que Fazem Mulheres; o romance de costumes aldeãos: Novelas do Minho, Brasileira de Prazins; o romance histórico: O Judeu, O Olho de Vidro; o romance naturalista, que caricaturou: n’A Corja e n’O Eusébio Macário.
O pensamento mais profundo dos enredos camilianos pode talvez considerar-se como tipicamente pré-romântico. Quem quer que se interponha no caminho dos amantes aparece sob uma capa de ridículo ou de odioso. A mulher de todas as condições é quase sempre o anjo adorável, capaz de todas as abnegações e sacrificada ao egoísmo, à vaidade ou ao simples capricho masculino. Os heróis dos seus romances, freqüentemente, são manequins que vestem sentimentos emprestados pelo autor, e a sua vida psicológica desenvolve-se de maneira forçada e incoerente.
Camilo é talvez o único escritor português da estirpe de Balzac. No entanto, falta-lhe objetividade e o espírito analítico que caracterizam o escritor realista. Tende a oscilar entre o lirismo e o sarcasmo. Freqüentemente, em vez de retrato, faz caricatura. Não é por acaso que a expressão “novela camiliana”
é freqüentemente usada, em vez de romance de Camilo: a diferença entre um e outro é que na novela camiliana a ação é uma sucessão de acontecimentos independente da dimensão tempo, que tem grande importância no romance de Dickens ou de Balzac.

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