Miguel Ângelo Lupi |
Esse período é marcado pela
presença de autores como os poetas João de Deus,
Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Xavier de Novais e
Pinheiro Chagas, e do romancista Júlio Dinis.
João de Deus foi um lírico de
vibração interior ficando à margem das marcas do
tempo e do meio. Mantendo-se fiel até o fim a um
desígnio estético e humano que lhe transcendia a
vontade e a vaidade.
Contemplativo por excelência, sua
poesia é a dum "exilado" na terra a
mirar coisas vagas e por vezes a
se deixar estimular
concretamente. Cultiva os mestres Tomás Antonio Gonzaga, Camões,
Dante, Petrarca
e a Bíblia. Entre suas obras,
destacam-se Campos de Flores.
Manuel Pinheiro Chagas teve em
Castilho seu grande mestre. Seu Poema da
Mocidade motivou a Questão Coimbrã, começo da
batalha entre românticos e realistas, em virtude da
apresentação escrita por Castilho, onde tece elogios
aos ultra-românticos e critica os jovens que começam a
fazer a literatura realista.
Os seus enredos ambientam-se
entre o meio mercantil do Porto ou a vida
doméstica no campo em casa de
proprietários-lavradores. Nos romances ambientados no Porto como “Uma
Família Inglesa”, a ação gira em torno da praça,
onde pululam o grande e o pequeno comerciante, o
guarda-livros, o rapaz dos recados, o caixeiro, o
capitalista reformado, o rico filho-família herdeiro de
uma grande firma.
Quando nos transporta para a
aldeia como em “As Pupilas do Senhor Reitor”, “A
Morgadinha dos Canaviais”, “Os Fidalgos da Casa
Mourisca”, o ambiente é mais convencional: a casa do
lavrador abastado,
pintada de maneira muito vaga,
com cores frescas, novas, e principalmente
o coração dos mexericos da terra: a venda, onde se reúnem
os lavradores, o brasileiro, o morgado
decadente, o candidato a deputado e, de passagem, a
beata da aldeia ou a criada do Senhor Abade, o
ambiente burguês do proprietário ou ao solar do
velho fidalgo.
Seus tipos são magistralmente
caracterizados com uma leve formação caricatural
e humorística, o que não exclui a ternura. Júlio Dinis deu um passo decisivo
na nossa prosa de ficção ao criar em Portugal o
gênero burguês e moderno por excelência, o
romance “contemporâneo”, amparado certamente por um
público que
tivera tempo de amadurecer desde
os primeiros ensaios do romance histórico.
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